"Os sistemas de refrigeração ainda em atividade são os mantidos por baterias. Elas vão durar oito horas", diz o sumário da primeira reunião emergencial do gabinete japonês, quatro horas depois do terremoto, citando um participante não-identificado.
"Se as temperaturas do núcleo dos reatores continuarem subindo por mais de oito horas, há a possibilidade de que um derretimento ocorra."
No dia seguinte, um funcionário do Ministério do Comércio que atuara como porta-voz do governo após o desastre foi substituído por citar o risco de fusão do reator.
Só em maio a empresa Tepco, dona da usina, admitiu que as barras de combustível do reator pareciam ter derretido, o que gerou suspeitas de que a operadora e as autoridades estariam tentando minimizar a gravidade do acidente.
A Tepco hoje considera que três dos seis reatores da usina, 240 quilômetros a nordeste de Tóquio, sofrerem derretimento do combustível. As minutas foram divulgadas a dois dias do primeiro aniversário do desastre, que deixou 19 mil mortos ou desaparecidos.
Outros trechos das minutas mostram confusão e discordância entre os principais líderes, num momento em que o Japão enfrentava sua pior crise desde a Segunda Guerra Mundial.
"Quem é o líder real da operação?", perguntou em 15 de março o então ministro de Assuntos Domésticos, Yoshihiro Katayama, durante reunião na sede da Reação a Emergências Nucleares. "Recebo muitas demandas e solicitações ininteligíveis. Ninguém está segurando as rédeas", dizia ele.
Em 14 de março, o então primeiro-ministro Naoto Kan disse haver consenso entre especialistas de que retirar as pessoas de um raio de 20 quilômetros em torno da usina seria suficiente. Ele foi contestado por Koichiro Gemba, na época ministro da Estratégia Nacional, que citou visões contraditórias.
Gemba, que representa Fukushima politicamente, disse em outra reunião: "Isso é guerra. Só ganhamos ou perdemos. Já estamos perdendo algumas batalhas. Mas o importante é como administramos para limitar nossas perdas."
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