Cinco
anos depois de lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
com previsão de aplicação de R$ 85 bilhões no setor, e do início da
vigência da Lei do Saneamento Básico, considerada essencial para
propiciar o atendimento de todos brasileiros com rede de água e esgotos,
a situação continua desalentadora. De 114 obras de saneamento do PAC,
em execução em cidades com mais de 500 mil habitantes, e que, na
maioria, vêm sendo acompanhadas desde 2009, apenas 8 (ou 7% do total)
estavam concluídas no fim do ano passado.
O
custo das obras é de R$ 4,4 bilhões, ou 11% dos R$ 40 bilhões previstos
na primeira edição do PAC para saneamento. O PAC 2 prevê mais R$ 45
bilhões. O Instituto Trata Brasil, organização criada em 2007 para
estimular a sociedade a cobrar das autoridades o avanço no saneamento
básico, decidiu acompanhar essas obras por considerar que seu andamento -
ou sua paralisação, pois há muitas paradas - reflete o desempenho geral
do programa. Isso vem sendo feito desde 2009 e o resultado continua
decepcionante, como se constata no relatório referente a 2011, que acaba
de ser divulgado.
Dados
do governo indicam que 55% dos brasileiros não são atendidos por rede
de coleta de esgoto. Ou seja, mais da metade do esgoto é lançada
diretamente na natureza, contaminando solos e rios. Do esgoto coletado
apenas um terço é tratado. Ou seja, apenas 15% do esgoto tem algum
tratamento antes de sua disposição final.
É
cada vez mais improvável o cumprimento da meta de universalização dos
serviços de saneamento básico em 20 anos anunciada pelo Ministério das
Cidades logo após a sanção, em janeiro de 2007, da Lei de Saneamento
Básico. Se mantido o ritmo de investimentos e de execução das obras dos
últimos anos, o prazo pode ser três vezes maior do que o previsto, de
acordo com dirigentes de associações de empresas de saneamento básico.
À
má qualidade gerencial dos programas de investimentos do governo do PT
somam-se problemas institucionais e legais que, detectados há cinco
anos, continuam sem solução à vista. Como apontou o relatório do
Instituto Trata Brasil, as obras de saneamento continuam a esbarrar em
projetos de má qualidade, problemas nas licitações e dificuldades na
obtenção de licenciamento ambiental. A grande maioria das 5.565
prefeituras não tem condições técnicas para elaborar esses projetos e,
por isso, não consegue liberar os recursos destinados a obras de
saneamento em seus municípios.
Pouco
tem sido feito para dotar as prefeituras, sobretudo de cidades de menor
porte, das condições mínimas para cumprir sua parte na execução dos
projetos de saneamento. O atraso das obras tende a concentrar-se nas
regiões onde as prefeituras estão menos capacitadas tecnicamente - e que
são as mais atrasadas em termos sociais e econômicos. Desse modo, a
execução do PAC na área de saneamento, em vez de reduzir, tem ampliado
as desigualdades regionais.
Os
resultados da execução do PAC do saneamento são ruins em todo o País.
Das obras acompanhadas pelo Trata Brasil, 60% estavam paralisados,
atrasados ou nem tinham sido iniciados em dezembro de 2011. Mas a
situação era particularmente grave no Norte (100% das obras paradas),
Centro-Oeste (70%) e Nordeste (34%). Já no Sul, 60% das obras estavam
sendo executadas dentro do prazo e, no Sudeste, 50%. Ou seja, as obras
andam mais depressa onde são mais altos os índices de atendimento da
população.
Outro
dado revelador do acompanhamento do Trata Brasil é o grau de eficiência
dos órgãos responsáveis pelos investimentos. Das obras executadas com
recursos do Orçamento-Geral da União, apenas 31% estavam em situação
normal no fim do ano passado; das financiadas pela Caixa Econômica
Federal, 28% estavam em situação normal e 4% concluídos, perfazendo 32%;
das financiadas pelo BNDES, 77% estavam em situação normal e 18%
concluídos, totalizando 95%. Esses números parecem retratar a diferença
do tratamento que esses órgãos dão aos recursos sob sua
responsabilidade.
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