Rio
Grande está na rota das alternativas de emprego para trabalhadores de
diferentes regiões do País. Tem sido cada vez mais comum a presença de
cariocas, paulistas, mineiros, cearenses, entre outros, nos mais
diversos segmentos da cidade. Especialmente com o incremento do Polo
Naval, as empresas buscam mão de obra qualificada e, com escassez na
cidade, acabam trazendo empregados de outros lugares.
Na construção civil, por
exemplo, de acordo com gestores e empresários do setor, tem sido
difícil encontrar trabalhadores habilitados e disponíveis para funções
de pedreiro, servente, entre outras, ou que não estejam seduzidos pelos
salários pagos pela construção naval. E foi com base nessa dificuldade
que a empresa Pedrão Construtora foi buscar empregados internacionais.
Cerca de 25 homens, naturais do Haiti, estão trabalhando em obras nos
estados do Rio Grande do Sul e Paraná, sede da empresa.
"Tivemos conhecimento,
através de uma empresa de Caxias, que havia um grupo de haitianos
trabalhando, legalmente, no ramo da construção, desempenhando boas
funções e supermotivados. Então, uma equipe da nossa empresa foi até
Manaus, onde cerca de 2 mil haitianos estavam alojados, para propor
contratos de trabalho, de acordo com nossa necessidade. Assim, estamos
com 14 trabalhadores em Rio Grande e outros 11 em Pato Branco, no
Paraná", disse Alexei Bordignon, engenheiro civil.
De acordo com ele, o
alojamento dos haitianos ficava junto à paróquia São Geraldo, e recebiam
auxílio de um padre responsável. "Logo que chegaram ao Brasil, foram
até a Polícia Federal encaminhar a documentação necessária e obter
liberação, inclusive com relação ao vencimento dos vistos. Até as
vacinas exigidas foram todas providenciadas", acrescentou Alexei.
O contrato firmado com a
empresa é normal, incluindo período de experiência e carteira assinada.
Todas as despesas estão sendo pagas pela Pedrão Construtora, como
alojamento, alimentação e transporte. Para José Henrique Fernandes,
técnico em edificações, que está acompanhando o grupo de haitianos, o
rendimento tem sido bom.
"A maioria veio em busca
de oportunidade. No seu país de origem, trabalhavam como enfermeiros e
garçons, outros eram apenas estudantes. Mas o diferencial é que eles têm
motivação, querem trabalhar pra mandar dinheiro para as famílias que
ficaram lá. E nosso objetivo, com o desenvolvimento do trabalho, é
promover a qualificação conforme o andamento das obras e a observação
das aptidões", disse José Henrique.
Segundo ele, os
haitianos têm atuado como um reforço nas obras, acompanhando uma equipe
técnica que já trabalha na empresa há algum tempo. A empresa participou e
venceu licitações da Prefeitura Municipal para construção de cinco
escolas de educação infantil e 268 casas. Nesse período inicial, os
trabalhadores estão atuando na construção da Escola de Educação Infantil
Ana Neri, na localidade do Bolaxa, e em outra obra no Camping
Municipal.
A realidade haitiana
A capacidade de entender
a língua portuguesa ainda é discreta, mas os haitianos mantêm a
comunicação, principalmente entre eles, através do francês e do dialeto
próprio, chamado crioulo. Alguns também entendem espanhol e, aos poucos,
vão se adaptando à linguagem brasileira. Kenel Lucian, de 31 anos,
contou que deixou o Haiti em busca de recuperação, após o terremoto que
devastou o país no início de 2010.
"O Brasil está abrindo
portas para o Haiti, prestando apoio e acolhendo os trabalhadores,
principalmente após o terremoto. Perdemos famílias, emprego, casa,
enfim, toda a estrutura, e viemos em busca de trabalho para auxiliar na
reconstrução da vida. Aqui, todo mundo nos trata bem, fomos muito bem
recepcionados pelo povo brasileiro. Assim, temos a chance de mandar
dinheiro para nossos parentes que ficaram lá, como meu filho de seis
anos", disse. No mesmo grupo ainda estão Anais Chery, 21, Deivil
Mirville, 27 e Renold Noel, 37, que vêm de cidades como Cabo Haitiano,
Gonive e Porto Príncipe, todos em busca de subsídios para reconquistar
não apenas o patrimônio que perderam, mas a dignidade através do
trabalho.
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