Os municípios brasileiros devem criar sistemas próprios de seleção e descarte para os resíduos do setor de construção civil com urgência. A preocupação é do professor da Universidade de São Paulo (USP, câmpus de São Carlos, Valdir Schalch. "Não há solução única para todas as cidades. Espero que elas não façam 'copia e cola' nos planejamentos", diz o Schalch.
O especialista disse, durante o Ecos da Sardenha, evento em São Paulo que discutiu sistemas de gestão e tratamento de lixo em vários países, que o volume de resíduos produzidos na construção civil no País é muito elevado. Na sua opinião, não adianta pensar apenas na ampliação de aterros para o despejo, é necessário reduzir a quantidade de lixo. O setor produz de 41% a 70% do que é descartado em pequenos e médios municípios, afirma Schalch. No País, são 88 mil toneladas por dia. No caso da cidade de São Carlos, são 592 m³ por dia, cerca de quatro vezes mais do que a quantidade de resíduos domésticos.
Segundo o professor, no primeiro momento, os resíduos mais importantes para separar são os chamados classe A, que inclui concreto, argamassa, cerâmicas e blocos. Este tipo de material representa 80% do descarte gerado pelo setor de construção e é também o que pode ser reciclado ou reutilizado com maior facilidade. "Este tipo de resíduo tem de ser separado na fonte, no início do processo para que sua reutilização não fique prejudicada", lembra Schalch.
"Se não implantarmos sistemas para reciclar e reutilizar materiais da construção civil urgentemente, em breve não teremos onde armazenar tudo isso", diz Schalch. Segundo ele, o problema vem crescendo nos últimos anos. De 2003 para cá o número de pontos de descarte irregular de materiais na cidade de São Carlos subiu de 22 para 42.
Na tentativa de reduzir o descarte irregular de materiais e de se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o município implantou oito Ecopontos. Eles recebem e administram pequenos volumes de resíduos da construção civil, como restos de tijolos, telhas, cerâmicas, concreto, restos de tubulação, argamassa, sofás, fogões, geladeiras, papel, vidro, metal e plástico. O que pode ser reutilizado é encaminhado para plantas de reciclagem. Segundo o professor, o sistema vem funcionando bem, mas ainda não é suficiente. "A lei ficou 20 anos tramitando, agora temos de cumprir. E, para isso, é preciso muito estudo e diagnóstico."
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