quarta-feira, 27 de março de 2013

Ao gosto do cliente, mas com identidade

Álvaro Otero/Divulgação / Álvaro Otero/Divulgação 
Hotel Fasano, nos Jardins, em São Paulo, projeto de Weinfeld e Marcio Kogan

Isay Weinfeld diz que adoraria projetar um posto de gasolina. Caso não fosse arquiteto, gostaria de ser maestro, mas em algumas noites é visto como DJ no clube Alley, na Barra Funda, em São Paulo. Um dos nomes mais prestigiados da arquitetura brasileira, ele é um curioso nato.
A invenção e a multiplicidade de seu pensamento arquitetônico se fazem presentes no livro "Isay Weinfeld - Projetos Comerciais" (ed. BEI, 396 págs.; R$ 160), que reúne 19 empreendimentos comerciais. O volume luxuoso (teve R$ 290 mil captados via Lei Rouanet) atravessa quase 15 anos de produção - de um restaurante em Londres a um hotel na Sérvia e outro no Uruguai, passando por alguns projetos no Rio de Janeiro e muitos em São Paulo.
"O escritório sempre teve uma produção muito variada, acho que fruto dessa minha permanente vontade de aprender e de experimentar o que não conheço", diz o arquiteto de 60 anos. "O spa da Fazenda Boa Vista foi inaugurado no mês passado; em breve, abrirão a academia Bodytech [no shopping Iguatemi], uma nova loja da Livraria da Vila [em Curitiba] e um novo empreendimento do Rogério Fasano."
Fernando Guerra/Divulgação / Fernando Guerra/Divulgação 
"Jamais gostei de fazer trabalhos em série", diz o arquiteto Isay Weinfeld
 
Entusiasta do escritório japonês Sanaa [vencedor do Prêmio Pritzker em 2010], Weinfeld circula entre design de interiores, mobiliário, cenografia e cinema (fez o filme "Fogo e Paixão", em 1988, e uma série de curtas-metragens ao lado do também arquiteto Marcio Kogan). Como definir seu estilo? Minimalismo é uma opção, mas ele procura manter-se à parte de rótulos. Crítico de arquitetura e autor dos textos do livro, Raul Barreneche busca explicar o trabalho de Weinfeld: um "ousado modernismo conjugado a certa aura histórica".
"O contraste, o oposto, as duas pontas sempre me atraíram. Já o equilíbrio entre elas não sei explicar. Talvez seja uma coisa de signo, sou libriano", diz Weinfeld. "O que tento fazer em qualquer projeto é resolver tecnicamente a questão colocada pelo cliente da melhor maneira possível, com uma pitada de criatividade."
Nelson Kon/Divulgação 
Forneria San Paolo, em Higienópolis
 
A pitada se faz sentir no corredor-túnel de vidro colorido que criou para a danceteria Disco ou nas portas-estantes pivotantes envidraçadas da Livraria da Vila da alameda Lorena, ambas em São Paulo. Um dos trunfos do livro é mostrar como cada uma das unidades da Livraria da Vila ou da Forneria San Paolo ficou diferente, sem perder do horizonte a identidade da marca e do cliente.
"Jamais gostei de fazer trabalhos em série, em que você cria um conceito e depois tem que repetir à exaustão, porque é parte do negócio do cliente. Sempre achei isso cansativo", diz Weinfeld na introdução do livro. "Só me interessa trabalhar em vários projetos para a mesma marca na medida em que me vejo em condições, dentro de um conceito estabelecido, de propor algo novo e fresco, garantindo a singularidade de cada projeto."
O livro não aborda projetos residenciais (15 deles foram tema de um livro anterior, lançado pela BEI em 2010). Fica de fora, portanto um dos projetos mais emblemáticos do escritório - o edifício 360°. Premiado com o Mipim Architectural Review Future Project, o imóvel na avenida Cerro Corá, na Lapa, é chamado, por entusiastas, de referência futura para São Paulo.
Tuca Reinés/Divulgação 
Interior da loja Forum da rua Oscar Freire, também em São Paulo. Weinfeld diz que busca resolver "a questão colocada pelo cliente da melhor maneira possível, com uma pitada de criatividade"
 
"Sinto que a nova geração tem mais estima pela cidade, é mais consciente em relação a ela e à força que têm para mudá-la, para fazê-la melhor", diz.
Tímido e espalhafatoso ao mesmo tempo, Weinfeld é um homem do mundo. A pedido do Victoria & Albert Museum, de Londres, ele doou recentemente os desenhos de alguns projetos do seu escritório que vão integrar a coleção de arquitetura do museu.
O arquiteto trabalha ainda em edifício de propriedade da família real de Mônaco, após desbancar nomes conceituados (como o francês Jean Nouvel). Em janeiro, os irmãos Andrea e Pierre Casiraghi, de Mônaco, estiveram em São Paulo, passaram pelos projetos de Weinfeld e terminaram a noite no bar Numero para comemorar a empreitada. Quando frequenta os lugares que projetou, Weinfeld diz ficar constrangido. "Sinto-me exposto, quase como se ficasse nu em público."

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