A necessidade de reduzir entulhos, otimizar o tempo de execução e o custo total da obra fará com que as construtoras invistam cada vez mais na industrialização dos canteiros. “É um caminho sem volta“, garante o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sindicato da Habitação (Secovi), Carlos Borges.
O método tradicional ainda é o mais utilizado na construção de edifícios residenciais, com estruturas de concreto moldadas no canteiro – pilares, vigas, lajes – e paredes de alvenaria de blocos cerâmicos ou concreto.
O boom imobiliário, que forçou a produção em larga escala, abriu caminho para industrialização e mecanização. “Estamos passando por uma transição na cultura construtiva“, afirma Borges. Para ele, vários aspectos têm pressionado a mudança, ainda de forma lenta. “O movimento será puxado pelas empresas líderes, já que as pequenas não têm condição de investir em tecnologia.”
Alternativas com estruturas pré-moldadas de concreto ou aço, paredes constituídas de painéis maciços de concreto ou compostas por perfis de aço e placas de gesso já predominam nas obras comerciais, como shoppings e supermercados, e residenciais de alto padrão.
Custo-benefício. “A princípio, esse método custa mais caro“, diz o vice-presidente de tecnologia do Sindicato da Construção (Sinduscon), Paulo Sanchez. “Porém, o tempo de produção é até seis meses menor.” Para indústria ou comércio, finalizar a obra antes, significa faturar mais cedo. “Isso compensa o custo adicional da obra.”
Em termos de tecnologia de materiais, componentes e sistemas construtivos, o Brasil está em igualdade de condições com os países mais avançados, garante o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover. Mas ele reclama da falta de isonomia na tributação de sistemas produzidos fora e dentro dos canteiros, “porque inibe esse investimento“.
ICMS. O presidente da Abramat explica que a compra de insumos básicos para a produção dos componentes em canteiro, como areia, cimento e brita, tem ICMS menor do que no caso de componentes – como pré-fabricados em concreto – produzidos em uma indústria e que chegam prontos ao canteiro.
Transferir o trabalho do canteiro de obras para fabricantes externos traz menor desperdício e maior controle no consumo de materiais, energia e insumos. “No canteiro, são realizadas apenas montagem e acoplamento de partes”, diz Cover, destacando a padronização e racionalização. “Isso é bem diferentes das atividades de artesanais que dependem da habilidade de cada operário no sistema convencional de construção.”
Sem ajustes. Segundo ele, como as peças pré-moldadas e pré-fabricadas chegam com as dimensões corretas e padronizadas, eliminam-se recortes para ajustes e retrabalhos, o que gera mais resíduos.
A industrialização também permite melhor controle de produção, maior produtividade, menor prazo para execução da obra e redução da demanda por mão de obra. A MRV já investe na industrialização dos canteiros há sete anos e a produtividade dobrou nesse período, afirma o presidente da construtora, Rubens Menin.
Tecnologia. O tempo de entrega de um prédio com 500 apartamentos, por exemplo, caiu 40% e pode ser feita em dez meses. “No método tradicional são necessários 12 homens por mês para fazer um apartamento. No nosso, apenas 3,5“, afirma Menin. “É um processo ganha-ganha, porque ganhamos em produtividade, apesar do maior investimento em tecnologia.”
A industrialização torna empresas mais competitivas e eficientes, principalmente as que produzem em larga escala, argumenta Menin. Segundo ele, há os painéis pré-fabricados, moldado em bloco e o misto. A MRV trabalha com o sistema matricial, muito usado na China e no México. “Nesse sistema, montamos tudo ao mesmo tempo“, diz. “É preciso muito equipamento para transporte e montagem, mas ganhamos com menos acidente de trabalho e mais conforto para o operário.”
Capacitação. A mecanização nos canteiros exige melhor nível de capacitação e treinamento dos profissionais para manuseio adequado de equipamentos. “Um dos motivos para busca de soluções tecnológicas é a falta de mão de obra capacitada“, explica Carlos Borges, do Secovi. “Está havendo migração para coisas que dependam menos de mão de obra artesanal.”
Isso também corta o número de trabalhadores na construção. É um processo que vem acontecendo há muito tempo, segundo avaliação do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintracon), referindo-se à redução das vagas.
“Antigamente havia 300 homens para fazer o que 30 fazem hoje“, afirma Antonio de Souza Ramalho, do Sintracon. Segundo ele, o número de trabalhadores na construção em São Paulo caiu de 1,5 milhão há 40 anos para 370 mil neste ano.
Mas a falta de mão de obra capacitada não é o único entrave que as construtoras precisam driblar, segundo Paulo Sanchez, do Sinduscon. Ele diz que os prazos para aprovação de projetos na prefeitura e a liberação do manejo de árvores nos terrenos pode levar até dois anos. “Isso aumenta o custo da construção, porque há um custo fixo da equipe que poderia estar trabalhando no local e não está“, afirma.
Crédito de imagem: Obra da Sulbrasil
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