segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A indústria desembarca no Sul do país


Ao visitar as obras da Petrobras dos Estaleiros Rio Grande e Quip, no município gaúcho de Rio Grande, em 17 de setembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff comentou: “Aqui, no Rio Grande do Sul, nós vimos nascer e crescer uma indústria naval. Eu vim aqui quando não tinha nada disso, agora nós temos esse grande estaleiro graças a vocês”, dirigindo-se a cerca de quatro mil trabalhadores. A fala da presidente pode dar a impressão de ter passado muito tempo entre uma visita e outra, mas o Estaleiro Rio Grande (ERG) foi inaugurado há apenas dois anos, em outubro de 2010. Ele consiste em uma infraestrutura de 430 mil metros quadrados para construção e reparos de unidades marítimas destinadas à indústria do petróleo, tais como plataformas flutuantes de perfuração, produção e apoio.
Esse é apenas um dos muitos investimentos bilionários que o estado gaúcho e cidades do sul do país estão recebendo. De acordo com pesquisa realizada pela Rede de Obras, ferramenta de pesquisa da e-Construmarket, as cidades de Rio Grande, Triunfo e Guaíba no Rio Grande do Sul, Araquari, em Santa Catarina e São José dos Pinhais, no Paraná, devem receber investimentos acima de R$ 1 bilhão cada uma neste ano de 2012, de projetos de empresas como Petrobras, Mater LNG, Braskem, Fibria e Grupo Nissan-Renault do Brasil.
 
O estaleiro EBR, em São José do Norte, está na fase de projeto, com investimentos previstos de
R$ 1,1 bilhão
 
Informações da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) mostram que apenas uma empresa, a Companhia Melhoramentos de Papel e Celulose (CMPC), planeja investir R$4,2 bilhões na duplicação de sua unidade fabril, na cidade de Guaíba e que o estado deve receber, até 2014, investimentos privados da ordem de R$ 14,88 bilhões de 22 setores da economia, sendo que R$ 10,25 bilhões serão oriundos de empresas dos setores automotivo, celulose, oceânica e petróleo e gás, conforme a tabela.
Setor Empresa Investimento
(em bilhões de reais)
Emprego
Direto
Emprego
Indireto
Cidade Conclusão
Automotivo GMB 2,35 1000 3000 Gravataí out-12
Celulose CMPC 4,20 10500 16500 Guaíba jul-14
Oceânica EBR 1,10 6000 5000 São José
do Norte
N/D
Oceânica ENGEVIX 1,00 7000 21000 Rio Grande jul-14
P&G REFAP/UTC 1,60 4500 N/D Canoas jan-12
* Total de 29 mil empregos diretos, 45,5 mil indiretos e R$ 10,25 bilhões em investimentos  entre 2012 e 2014.
Fonte: AGDI-RS
 
INDÚSTRIA OCEÂNICA
O diretor de Planejamento, Programas e Captação de Recursos da AGDI, Ivan De Pellegrin, coordenador da Política Industrial do Rio Grande do Sul, comenta que o primeiro grande conjunto da indústria oceânica e do polo naval do Estado a se estruturar foi em Rio Grande, com apoio da Petrobras. “À medida que os investidores foram chegando, percebemos que teríamos problemas, que a Região ficaria saturada em termos de estrutura e mão de obra antes que fossem implantados todos os projetos”.
Para atender à demanda de Rio Grande, o governo estadual começou a desenvolver o potencial hidrográfico do estado. “Hoje podemos dizer que temos dois polos navais. O primeiro em Rio Grande, no sul do estado, que está em ampliação e tem grande demanda para a Construção Civil. Na área contígua ao ERG está sendo instalado o Estaleiro Rio Grande-2 (ERG-2), da empresa Ecovix. Já o estaleiro EBR, em São José do Norte, está na fase de projeto, com investimentos previstos de R$ 1,1 bilhão”, comenta.
O segundo é o Polo Naval de Jacuí. “Ele já conseguiu atrair para esta região, mais ao norte do estado, grandes empresas para a construção dos módulos, que serão conduzidos por hidrovias até Rio Grande onde serão montadas as plataformas”, informa. Portanto, Jacuí e Rio Grande têm grande demanda por obras de Construção Civil, para construção das plantas de um conjunto de empresas como Quip, Metasa, Engecampo, UTC, entre outras, que estão se instalando no Rio Grande do Sul.

A nossa perspectiva do ponto de vista de demanda para novas obras é muito grande. É um conjunto de ações do governo do estado, governo federal e iniciativa privada que vai gerar um movimento muito grande nos próximos dois anos
 
O diretor da AGDI explica que a atração de investimentos é resultado da política industrial do estado – dividida em 22 setores, dos quais o agroindustrial e o automobilístico são prioritários. “Além dos dois setores principais, temos o que chamamos de novos polos de desenvolvimento, como a indústria oceânica, naval e o setor petrolífero”.
A chegada de novas empresas ocorre também em geração de energia eólica, um setor novo no estado, mas que tem atraído investidores, com reflexos na economia em geral. “Não tenho a menor dúvida de que tem havido grande crescimento no setor da Construção Civil no estado por conta desses investimentos”, afirma.
Além das ações da iniciativa privada, há a atuação do governo estadual, principalmente no setor de infraestrutura. De Pellegrin informa que há um amplo projeto de implantação de rodovias, banda larga, investimentos no desenvolvimento das hidrovias, em terminais portuários, aeroportos, construção de um novo centro de convenções, revitalização do Parque Assis Brasil, construção do estádio para Copa do Mundo de 2014, entre outras obras. “A nossa perspectiva do ponto de vista de demanda para novas obras é muito grande. É um conjunto de ações do governo do estado, governo federal e iniciativa privada que vai gerar um movimento muito grande nos próximos dois anos”, afirma.
Ele conta que o governador Tarso Genro, em seu primeiro ano de mandato, conseguiu recuperar um crédito de R$2,3 bilhões que a companhia energética gaúcha tinha a receber da União. “A reinserção do Rio Grande do Sul no orçamento federal garantiu ainda R$2,6 bilhões para estradas e R$2,7 bilhões para saneamento – angariados em fontes como Orçamento Geral da União, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial. Somando estas e outras negociações, temos R$10 bilhões em aportes. Algo que há muito não se via no Rio Grande do Sul", afirma. Explica ainda que os investimentos previstos são reflexos da política industrial. “De um ano e meio para cá o governo do estado conseguiu, com apoio de outros setores da sociedade, traçar um plano de desenvolvimento. Com isso, melhoramos a atratividade do estado para novos investimentos”.
De Pellegrin afirma que a política industrial do Rio Grande do Sul é sedimentada em cinco eixos: Setorial; Cooperação, voltada para o setor cooperativista; Firmas e Empresas, para receber empresas e oferecer condições de competitividade; Transversal, que são os incentivos fiscais ou de capital pró-competitividade, inovação tecnológica, parques industriais; e Infraestrutura, para possibilitar o desenvolvimento dos investimentos privados, com capital da empresa, como no caso da CMPC cuja ação em Guaíba, prevê investir em infraestrutura para atender o processo de ampliação de suas atividades.


O projeto de expansão da Celulose Riograndense, do grupo CMPC, segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa da empresa, vem sendo trabalhado há cerca de um ano e meio e está na etapa da engenharia básica, que deverá ser concluída ainda em 2012. O projeto contempla, além do incremento da produção de celulose, a ampliação da base florestal e a implantação de um sistema logístico hidroviário. Neste momento, está em andamento a expansão da base florestal, com a implantação de 15 mil hectares de eucalipto e recuperação de 18 mil hectares de florestas, a execução de obras viárias e a continuidade nos processos de licenciamento para criação de portos.
Atualmente a fábrica de Guaíba produz 450 mil ton/ano de celulose. Com a ampliação, passará a produzir 1,8 mil ton/ano, com expectativa de 100% de comercialização da produção. A previsão para o início das operações comerciais é o segundo semestre de 2014. Segundo a empresa, o valor total do investimento previsto será de R$ 4,6 bilhões, divididos em três grandes áreas: industrial, florestal e infraestrutura.
A Celulose Riograndense está destinando cerca de R$40 milhões em obras viárias que contribuirão para a mobilidade urbana de Guaíba, por meio de uma parceria público-privada estabelecida com o governo municipal. As obras estão sendo executadas como contrapartida, diante das mudanças decorrentes da futura ampliação da unidade da empresa. As obras consistem na execução de redes de água, de esgoto e pluvial e da duplicação, pavimentação e repavimentação de diversas ruas e avenidas. Serão construídas sete rótulas nas interseções mais importantes, totalizando 12 km de vias pavimentadas e 7 km de ciclovias.
A empresa inicia, a partir do segundo semestre de 2012, o processo de migração do óleo combustível para o gás natural. O insumo, a ser fornecido pela distribuidora Sulgás, será utilizado inicialmente no forno de cal. A previsão da companhia é substituir integralmente o uso do óleo combustível nos demais equipamentos da unidade em um prazo de até dois anos, antes, portanto, do início das operações da nova fábrica de celulose do grupo, previsto para ocorrer no início de 2015.
O investimento inicial da Celulose Riograndense na substituição de queimadores de óleo para os de gás e demais interligações que venham a ser necessárias será de, aproximadamente, US$ 1 milhão. A maior parte do aporte necessário para viabilizar o projeto será feita pela Sulgás, cujos investimentos para a construção do gasoduto em Guaíba somam R$21 milhões.

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